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Por que a Ponte 25 de Abril NÃO é a Golden Gate portuguesa

Ponte 25 de Abril – Lisboa

A Ponte 25 de Abril é uma das estruturas mais icônicas de Lisboa e um dos maiores marcos da engenharia portuguesa. Inaugurada em 6 de agosto de 1966, ela foi a maior ponte suspensa da Europa na época. Embora muitos a associem à Golden Gate, sua história tem uma conexão mais forte com outra ponte de São Francisco.

Histórico

O ano de 1933 pode ser considerado o marco inicial do projeto para a travessia do Tejo. Na época já se tinha a ideia de criar um modelo que englobasse a concepção, construção e exploração da ponte, e, por isso, foi aberto um concurso com esse objetivo. No entanto, as propostas apresentadas não atendiam aos requisitos especificados no caderno de encargos, levando à anulação do concurso. O tema seria retomado somente 20 anos mais tarde.

Em 1953 foi criada uma comissão para estudar a construção da ponte, que realmente deu início aos primeiros estudos sobre a travessia. O projeto não envolvia apenas a construção de uma ponte, mas também a criação de uma ligação rodoviária, o desenvolvimento de um anel viário e a conexão entre as margens norte e sul. Foi apenas a partir dessa fase que os estudos começaram a ser aprofundados.

Durante esse período, a engenharia portuguesa teve um papel fundamental, com o envolvimento do Laboratório Nacional de Engenharia Civil, que ficou responsável pela elaboração do concurso de concessão e construção, que seria realizado posteriormente. O caderno de encargos era extremamente rigoroso: exigia que o concorrente conseguisse o financiamento para a obra e apresentasse uma proposta para uma ponte rodoferroviária.

A Semelhança com a Golden Gate: Um Engano Comum

Ponte Golden Gate – São Francisco

Ao olhar para a Ponte 25 de Abril, é fácil associá-la à Golden Gate Bridge de São Francisco, especialmente por ser uma ponte suspensa de cor vermelha. No entanto, as semelhanças param por aí.

Em 1958, o governo português decidiu avançar com o projeto da ponte, e após anos de estudos e tentativas de projeto, foi escolhido o consórcio da United States Steel International. Este consórcio foi responsável por garantir o financiamento e apresentar uma solução técnica para a ponte que atendesse às necessidades de uma estrutura rodoferroviária.

O projeto da Ponte 25 de Abril foi desenvolvido pela firma de engenharia Steinman, Boynton, Gronquist & London, que também esteve envolvida na Oakland Bay Bridge. Essa empresa, com vasta experiência em pontes suspensas, foi fundamental para a execução do projeto, que, embora com base em uma ideia inicial da Steinman, sofreu ajustes importantes feitos pelos engenheiros portugueses, que adaptaram a obra às condições locais.

Oakland Bay Bridge – São Francisco

Cores à parte, já que a Ponte 25 de Abril é vermelha e a Oakland Bay Bridge é cinza, elas têm como semelhança o design dos pilares e o fato de terem função mista, ambas com dois níveis de circulação de meios de transporte.

Um Ícone da Engenharia Portuguesa

Com um vão de mais de 1.000 metros e pilares de grande resistência, a Ponte 25 de Abril é um símbolo da modernização e do desenvolvimento de Lisboa. Durante sua construção, chegaram a trabalhar simultaneamente 3.000 pessoas, enfrentando diversos desafios técnicos que exigiram inovação e criatividade para garantir a estabilidade e segurança da estrutura.

Foi uma obra exemplar em diversos aspectos, começando pela organização envolvida na sua execução. Um plano de trabalho foi elaborado inicialmente, prevendo um prazo de 51 meses para a conclusão. No entanto, a obra foi finalizada em aproximadamente 48 meses, ou seja, em menos de 4 anos.

Construir uma ponte suspensa de tal magnitude apresenta uma série de desafios. Entre os principais estavam a instalação dos pilares e as fundações profundas, que chegaram a 84 metros de profundidade no leito rochoso. A Ponte 25 de Abril também incorporou inovações, como o uso de uma viga de rigidez contínua e o ajuste da estrutura para suportar variações térmicas significativas, com deformações longitudinais de até 1,70 metros.

Uma das principais características da ponte são os dois tabuleiros que suportam o tráfego rodoviário e ferroviário. A ponte foi planejada para ser rodoferroviária desde o início, o que representou um grande desafio, visto que o transporte ferroviário só foi instalado em 1999, ou seja, 33 anos após a conclusão da obra. Além disso, a resistência da estrutura foi calculada para suportar ventos de até 200 km/h e deformações térmicas, um aspecto crucial em uma região suscetível a mudanças de temperatura e também a tremores sísmicos.

Mudança de Nome

A ponte foi inaugurada com o nome de Ponte Salazar, então ditador português, António de Oliveira Salazar, que liderava o regime do Estado Novo. A decisão de nomear a ponte em sua homenagem foi uma forma de afirmar a importância da obra e associá-la ao regime vigente.

No entanto, a situação política de Portugal mudou drasticamente em 25 de abril de 1974, quando teve lugar a Revolução dos Cravos, que derrubou o regime autoritário de Salazar e instaurou um regime democrático.

Poucos meses após a revolução, a ponte passou a se chamar Ponte 25 de Abril, em homenagem à data histórica da revolução, que marcou o fim da ditadura e o início de uma nova era para Portugal. A mudança do nome refletiu a ruptura com o passado e o desejo de simbolizar um novo futuro para o país.

O Legado da Ponte 25 de Abril

A Ponte 25 de Abril é muito mais do que uma infraestrutura de transporte; ela é um símbolo da conexão entre as duas margens do Tejo e do desenvolvimento econômico e social dos arredores de Lisboa. Sua construção trouxe consigo uma revolução na forma como as pessoas se deslocam na região, conectando Lisboa à cidade de Almada e além.

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